Capítulo 1

11 de fevereiro de 2016

* Livro ainda sem revisão

Após mais um dia tumultuado na delegacia de polícia, três colegas decidiram descarregar as baterias passando a noite bebendo e se divertindo em um lugar qualquer onde tivesse muita música boa e muita mulher sensual. Eram eles Jonas, Bruno e Saulo – três policiais civis da ativa e extremamente bons e focados no que faziam. O primeiro tinha 31 anos, boa aparência e uma personalidade peculiar. Sempre sonhara em ser policial e no dia em que pisou pela primeira vez no local de trabalho jurou a si mesmo que daria o seu melhor. Contudo o seu melhor poderia não ser o melhor para as outras pessoas. O som da danceteria estava alto, quase ensurdecedor, e pessoas dançavam e bebiam enquanto pareciam felizes, ou pelo menos, empolgadas. Algumas mulheres lindas e praticamente seminuas movimentavam-se por todo canto com bandejas nas mãos, distribuindo cervejas para os clientes, que em sua grande maioria era formada por homens de variadas idades. E quase todos eles pareciam alvoroçados e ligeiramente bêbados. Quando os três amigos se aproximaram da bancada, duas mulheres logo se aproximaram, sorridentes. Uma era loira e alta, completamente diferente da outra, que era morena e mediana. Ambas se apresentaram e demonstravam um olhar sugestivo nos rostos.
— E então, procurando diversão? – indagou a loira.
— Olha, lindezas – riu Saulo, tocando a cintura da morena – queremos sim – e virando-se para os outros dois – não queremos, rapaziada?
Bruno, que era negro e aparentemente o mais comunicativo do trio, sorriu, tomando à frente da situação.
— Há, por acaso, algum lugar mais, digamos, tranquilo, por aqui?
A loira sorriu.
— É claro que há. 
– Então vamos.
— Vocês vão – retrucou Jonas, fitando-os – eu não. Hoje não tô afim. Vou ficar por aqui mesmo . 
— Ah, qual é! – exclamou Bruno ao amigo – vai ficar fora dessa?
— Que foi, bonitão? – indagou a loira para Jonas, acarinhando-lhe o rosto – vamos lá. Você não vai se arrepender. 
Ele sorriu, mas afastou as mãos dela gentilmente.
— Deixe pra uma próxima vez. Mas sabe de uma coisa? Esses dois vão cuidar direitinho de vocês. Qualquer coisa, é só falar comigo - brincou.
A mulher sorriu.
— Eu sei que vão...
E minutos depois os quatro se afastaram. Quando se viu sozinho, Jonas voltou-se para a bancada, e então, pediu uma cerveja. Uma bem gelada.
A atendente assentiu. 
— Só isso? Mais alguma coisa?
— Só isso, obrigado.
Os olhos dos dois, então, se encontraram e ele se perguntou se naquele lugar só trabalhavam mulheres bonitas e sensuais. Porque se fosse, seria uma injustiça. A atendente era  morena, simpática e tinha os cabelos presos em um enorme rabo de cabalo. A pele da garota era a coisa mais linda que Jonas já vira na vida. E parecia macia. Teve vontade de tocá-la. Sim, mas era claro que ele só ficaria mesmo na vontade. Enquanto ela pegava uma garrafa de cerveja com surpreendente habilidade, tentando dar atenção a todos os clientes que aproximavam-se, Jonas decidiu ignorá-la. Na verdade não estava preocupado com sexo aquela noite. 
— Aê, gracinha! – falou um homem, de repente, cheirando a porco, virando-se para a garota – me vê uma cerveja bem gelada! 
A atendente voltou a se aproximar da bancada e dirigiu-se ao primeiro cliente.
— Aqui está sua cerveja, senhor – falou.
Jonas agradeceu e a observou abrir gentilmente sua garrafa. Ele, então, tomou o primeiro gole, e conseguiu perceber, de soslaio, que o homem a seu lado também o observava. Em seguida o cara de porco voltou-se para a atendente:
— E aí, gostosa! Vai dançar hoje de novo pra gente ver? Sabe, adoro ver seu bumbunzinho se requebrando lá em cima do palco – e riu.
A mulher não respondeu. Apenas o ignorou.
— Não vai falar comigo, não, é? – insistiu o sujeito – qual é? Não fique acanhada. 
— Mais alguma coisa, senhor? – indagou ela, fitando o primeiro cliente, e ignorando completamente o outro e suas piadas.
— Ei, eu estou falando com você, garota! – rosnou o sujeito ao lado, que parecia um porco, segurando-lhe o braço – te fiz uma pergunta e quero ouvir sua resposta. 
— Me solte - pediu ela, com aparente tranquilidade.
— Ah, qual é! Quem aqui não sabe que você adora rebolar lá em cima do palco pra gente ver? Hã? Por que está se fazendo de doce agora? Vem cá, meu chuchu... - e a agarrou. 
– Me solta! – e desvencilhou-se dele bruscamente.
— Vadia! - gritou com raiva.
Jonas tentou manter-se neutro, mas aquilo já estava começando a incomodá-lo. O que o cara estava pensando? Não era por que a simples atendente era uma garota de bar que aquele porco miserável podia tratá-la como a estava tratando. Sem respeito algum. Sentindo os nervos tremerem, Jonas explodiu: 
— Ei, cara, por que não faz um favor e deixa a garota em paz, hã? Sabe, ela está na dela, trabalhando, então por que você não mete o pé daqui e nos livra desse seu cheiro insuportável?
O homem largou a mulher, entortou os lábios e o fulminou com os olhos:
— Quem te perguntou alguma coisa, otário?
Otário?
Jonas cerrou a cara. Com quem aquele babaca pensava que estava falando? O imbecil não tinha noção de quem era ele. Então, largou o copo no balcão, e deu alguns passos à frente do sujeito.
— Eu, otário?
O homem deu um sorriso cínico e repetiu o gesto do rival.
— É, você. 
Antes mesmo que o outro pudesse raciocinar, sentiu um murro tão forte na boca, que os dentes pareciam saltar do lugar. Cambaleando para trás e sentindo uma dor dos infernos, o homem rosnou, levando a mão até a boca. Seus olhos lacrimejavam e sua vista parecia ver estrelinhas. Constatou que estava sangrando e que, de fato, havia sido acertado em cheio na boca. Com ódio, levantou-se imediatamente, ainda que zonzo, e avançou no rival, que desviou-se dele com facilidade, fazendo-o, cair em cima da multidão, desgovernadamente. O cara ouviu gritos e sentiu empurrões. E então, quando se deu conta, já estava longe do sujeito que havia o agredido. Chorou. Levou as mãos até à boca novamente, e saiu envergonhado do local. 
Jonas respirou fundo, voltando a se sentar diante da bancada. Pôde perceber o olhar da atendente. A garota devia estar admirada. Agindo como se nada tivesse acontecido, ele pegou o copo e deu mais um gole da bebida. Seria o último daquela noite. E depois se levantou. Em seguida saiu.
Já estava quase chegando ao estacionamento, depois de ter caminhando pela rua escura e deserta daquele bairro medíocre da cidade, quando, de repente, alguém gritou:
— Ei, espere!
Virou-se rapidamente e se surpreendeu ao ver a atendente do bar. No entanto continuou caminhando. Não tinha nada para tratar com ela. 
— Ei! – insistiu ela, chegando mais perto, e então, Jonas finalmente parou, voltando-se para fitá-la. Agora poderia vê-la melhor. Como ela era linda... Os cabelos presos num rabo de cavalo, o corpo curvilíneo, o rosto fino como o de uma boneca. Parecia ofegante.
— Oi – ela sorriu – desculpe te incomodar, mas é que ainda não tive tempo de agradecer.
Jonas conteve a vontade de fazer uma careta. Ora, ela não precisava agradecer. Ele limitou-se a fitá-la.
Ela continuou:
— Prazer, eu sou Verônica – e esticou a mão para que ele a apertasse.
Jonas fitou-a, intrigado, enquanto lhe apertava a  mão.
— Jonas.
Ela sorriu como se alguém lhe tivesse contado uma piada.
— Sabe que na Bíblia há uma passagem sobre alguém com o seu nome? O homem que foi engolido pela baleia.
— Na verdade, um peixe grande.
— Como?
— Bom, na Bíblia não diz que é baleia. Diz que é um peixe grande.
— Oh... sim. Na verdade, nunca parei para pensar nisso...
Não houve resposta. Ele desviou o olhar. Estava agitado. Tinha gasto muita testosterona, mas ainda precisava se livrar de mais energia do corpo. Havia tido um dia estressante na delegacia, depois dispensado uma divertida noite de sexo e por último acabara de quebrar a cara de um sujeito na boate. Não estava tão calmo quanto gostaria.
— Bom, eu preciso ir... – murmurou.
— Não vai esperar por seus amigos lá dentro? Vi vocês chegando juntos...
Ele a fitou novamente. O que a garota queria? Seduzi-lo? 
— Eles sabem se virar - respondeu, dando de ombros, e antes de virar-se , falou - à propósito, você deveria voltar pro balcão, não?
— Já tem outra no meu lugar. Eu vou começar a dançar daqui a pouco.
Jonas fitou-a, surpreso.
— Ah, então você dança?
— Sim, sou quase uma profissional - ela sorriu - não uma  profissional formada, mas tenho muita prática em pole dance. Já ouviu falar?
Ele a olhou, mais interessado.
— Sim, já.
E se perguntou se valeria a pena ficar mais alguns minutos na boate. E quem sabe até mais de alguns minutos. 
— Não gostaria de me ver dançar?
Ele deu um meio sorriso, pensando se valeria a pena mesmo, e pousou as mãos nos bolsos.
— Ok. 
– Acho que vai gostar. 


***

Ela estava certa. Ele gostou. Jonas estava impressionado com a pole dance que Verônica exibia em cima daquele palco. Fazia mais de dez minutos que ela estava lá, poderosa, e não era possível tirar os olhos de cima daquela mulher espetacular. Os homens gritavam, atormentados, e assoviavam. Alguns falavam coisas sujas sobre a garota sensual que dava literalmente um show em público. De queixo caído, Jonas não conseguiu parar de admirá-la. Verônica agora estava com os cabelos longos soltos e parecia uma estrela de cinema, brilhando única, dona do próprio show. Fazia coisas mirabolantes e fantásticas com tamanha ousadia e sensualidade. Foi aí que ele se perguntou o que aquela mulher faria na cama, debaixo dos lençóis. Seus olhos não piscaram durante segundos, pois ele não podia perder um só flash daquela exibição. A boca estava aberta e o coração acelerado. Que morena era aquela, afinal? Agora entendia o porquê de tantas frases idiotas dos brutamontes daquele lugar. Mas naquele momento ele não estava mais pensando em nenhuma delas. Nem em nenhum brutamonte. Queria apenas continuar admirando aquela mulher. Verônica era o seu nome.


***

Após o espetáculo de Verônica, uma outra mulher subiu ao palco e também levou os homens à loucura. Afastando-se das pessoas e pedindo licença pelo caminho, Jonas conseguiu chegar até à bancada onde havia brigado com um cara minutos antes e dessa vez encontrou uma ruiva alta de cabelos curtos lá, mascando chiclete.
— Pois não? – ela sorriu para ele – em que posso ajudar, gato?
— Procuro a Verônica – murmurou – sabe onde ela está?
— Bom, Verônica acabou um show agora... na certa deve estar se trocando em algum camarim por aí. Mas só serve ela, bonitão? Eu, talvez, possa ajudá-lo.
— Onde fica o camarim?
— Na segunda à direita, perto do banheiro feminino.
— Obrigado.
— Ei, volta aqui, gostoso!

***

A rainha do pole dance estava terminando de se calçar quando a amiga, Alice, entrou eufórica.
— Verônica! Tem um bofe lindo lá fora perguntando por você! O que eu falo?
— Quem é?
— E eu que vou saber? Você me esconde as coisas e depois me pergunta quem é? É um bofe. Nunca vi antes por aqui. Deve ser novo no pedaço. Quer falar com você.
Verônica sorriu. Lembrou-se do cara que tinha o nome da passagem Bíblica. Jonas.
— Acho que sei quem é...
— Quem? Me fala.
— Depois eu te conto, Alice, deixe-me ir até lá...
— Não vá fugir, hein, gracinha! Eu vou querer saber depois tim tim por tim tim, viu!
Quando Verônica finalmente apareceu, Jonas a contemplou de vestido curto e uma surrada jaqueta jeans. Ele a olhou dos pés a cabeça. Ela o acompanhou.
— Oi. Estava me procurando?
— Er... – murmurou, pensando no que diria, e passou a mão rapidamente pelo rosto – é verdade, você tinha razão, eu gostei do show... eu vi você... vi você lá em cima dançando, e... nossa, você dança muito bem.
Ela sorriu, entusiasmada.
— Gostou?
— Se gostei? Poxa, você foi maravilhosa! – e pigarreando – quer dizer, nunca vi nada igual. Você deu um show. Literalmente.
— Não achou vulgar? Sei lá, meio...
— Não, não usaria essa palavra... eu diria que foi sensual. Sim, você estava muito sensual lá em cima do palco.
— Certo... bom, eu não faço sempre esse tipo de coisa, sabe... mas é que aqui as coisas funcionam assim. A gente dança e também atende.
— Atende?
— Sim, atende... servindo os clientes no bar – explicou.
— Ah, sim, claro.
Ela o olhou com tristeza e desviou rapidamente o olhar.
— Pensou que eu... fizesse programa?
— Não... claro que não. Não pensei isso.
— Ah, tá, porque se procura isso, lamento, mas não faço.
Ele continuou a observando.
— E quem falou em programa? – e deu alguns passos em direção a ela – quer sair comigo? Só um encontro comum. Nada demais.
Ela fitou-o, pasma.
— Sair com você?
— É.
— Agora?
Foi a vez dele desviar o olhar, sentindo-se um estúpido. Será que não estava agindo como um tolo afobado? Não era porque Verônica era linda e sensual, que ele precisava levá-la para a cama naquela noite. Daquela forma certamente ofenderia a garota.
— Desculpe, se estou sendo ansioso demais. É que...
— Não, tudo bem...
— A essa hora não podemos pegar uma sessão de cinema, ou coisa parecia, mas se quiser, podemos ir até algum lugar mais calmo e beber um pouco. O que acha?
Ela, então, pensou um pouco. E sorriu.
— Se você prometer me levar pra casa depois, tudo certo.
— Eu dou minha palavra.
— Certo, então vou pegar minha bolsa lá dentro e avisar que estou saindo.
— Estarei esperando.
No momento em que pegou a bolsa, Verônica comentou com a amiga, Alice, que sairia com o cara que conhecera horas atrás e iriam para um lugar ali perto. Zombeteira, a loira comentou que daria parte na polícia caso a amiga demorasse e não aparecesse em casa até a meia noite. As duas moravam juntas havia alguns meses. Verônica sorriu e disse que ligaria para avisar que estava bem. Então se despediu da amiga com um beijo no rosto e em seguida saiu.
— Boa sorte com o bofe! – a outra gritou.
Quando voltou, Verônica encontrou Jonas encostado na parede, observando, de longe, outra garota que dançava e era aclamada pela multidão. Sim, aquele lugar era assim. Rolava muita bebida, dança e sexo.
— Vocês fazem isso todo dia?
— Dançar?
— É – respondeu, afastando-se da parede - dançam todos os dias?
— Bom, na verdade, só às sextas à noite. E aos fins de semana também. Por quê?
— Curiosidade. Vamos?
— Vamos.
Então Verônica saiu na frente e ele a seguiu por entre a boate, que àquela altura ainda estava cheia e a cada minuto mais barulhenta. Ao saírem, ele dirigiu-se ao estacionamento e ela o seguiu. Ficaram em frente a um Cruze Sedan azul macaw e ele acionou um controle remoto para destravar a porta do carro. Ela pensou que o cara devia ter muito dinheiro, pois o automóvel era lindo e zero km. Sentou-se ao lado dele, no carona, e ajustou o cinto de segurança. Durante o trajeto quase não conversaram. Jonas simplesmente ligou o rádio e colocou uma música suave para eles ouvirem. 



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